deixa eu me despedir direito

R. F.
2 min readJan 31, 2023

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queria só dizer que o tempo fechou, a rua alagou de novo e eu não sei muito bem o que fazer pra resolver o problema da privada. eu vivo pensando em te mandar o novo álbum do BK, comprar um milka de morango e esperar algo acontecer. agora eu sempre espero algo acontecer. te trombar no metrô por acaso é improvável. você me parece cada vez mais distante e inatingível. sinto saudade no Dia da Saudade. existe algo mais irônico que isso? eu queria dizer que sinto muito. por mim, por você, pela nossa história. eu sinto demais e às vezes me pego fora do eixo, meio alheia a tudo, como se o mundo já tivesse nascido sabendo como encarar as dores e eu, somente eu, fosse apenas uma aprendiz da vida. mas dentre as muitas coisas que venho aprendendo, entendi que seguir em frente envolve deixar alguns vestígios do passado pra trás, aceitar os erros. nossos e dos outros e dar um jeito de continuar.
eu que sou ateia peço a Deus pra te proteger, pra me apagar de você, mas 2 minutos depois me arrependo. quem quer ser apagada assim? lembro de tudo o que vivemos e penso se um dia vou conseguir. fortaleço laços, me incentivo a criar novos vínculos, faço o que manda o script e sinto medo de te ver desaparecendo de mim. te resgato em pequenas partes: a primeira viagem, os encontros por acaso no metrô (“como assim você por aqui?”), os inúmeros shows que vimos juntos, as dores que nos invadiram e se dissiparam quando nossos abraços se encontraram... você já foi meu mundo e esse poder é grande demais pra se dar a alguém. eu desejo que você nunca dê a ninguém e que um dia, quando o tempo aliviar o peso desse desfecho, a gente consiga se enxergar com o conforto dos primeiros meses e a parceria de todos os anos que passamos juntos. talvez eu precise me despedir mais algumas vezes, mas tudo bem. sigo te amando daqui.

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R. F.

jornalista e psicóloga. das colagens, dos livros, da comunicação e do povo.